
Apetrechos
Existem basicamente quatro tipos de métodos de captura voltados para a pesca da lagosta nas regiões Norte e Nordeste do Brasil: os covos, que são armadilhas fixas ao substrato, a caçoeira – rede de emalhar atualmente proibida em todo o território nacional –, as cangalhas, que se assemelham aos covos e a captura através do mergulho (SILVA & FONTELES-FILHO, 2011; LIMA et al., 2014; CUNHA et al., 2014; DIAS-NETO, 2017).
O covo ou manzuá é constituído por uma estrutura de madeira ou de ferro telada como arame ou fio de náilon (SILVA & FONTELES-FILHO, 2011; IVO et al., 2013). Este aparelho de pesca é considerado o “oficial” para a captura de lagosta pelo fato de que não agride o substrato em que a armadilha é fixada, entretanto o seu alto custo de construção, combinado com a curta vida útil e menor rentabilidade, este apetrecho tem tido uma participação cada vez menor na captura da lagosta (IVO et al., 2013). Quando os covos começaram a serem utilizados na captura da lagosta, as embarcações artesanais o utilizavam de forma isolada, já as industriais o empregavam juntos na forma de espinhel (IVO & PEREIRA, 1996). Geralmente, nos espinheis são utilizados cerca de 12 a 25 covos, podendo atingir até 30 (SILVA & FONTELES-FILHO, 2011; IVO et al., 2013).
A rede caçoeira geralmente é confeccionada com náilon multifilamento, que é um material mais caro, de difícil manuseio, ou com náilon monofilamento, que são mais levem, de menor altura e são confeccionadas com fio mais fino (IVO et al., 2013; SANTOS et al., 2016).
De acordo com Santos et al. (2016), existem oito componentes que caracterizam a rede caçoeira utilizada nas pescarias de lagosta da região Norte, são eles:
-
Panagem: material de nylon poliamida multifilamento, com tamanho de malha igual a 12 cm e possui 150 metros de comprimento e 1,9 metros de largura;
-
Calão: haste de madeira com aproximadamente 1,2 metros de altura e são usadas como estruturas de apoio às redes;
-
Filame: cabo de polietileno com 12 mm de diâmetro e tem a função de fixar a boia de sinalização à rede;
-
Boias: conjunto formado por um bloco de isopor, haste de madeira e uma bandeira para sinalizar a localização da rede;
-
Tralha de boia: cabos de poliamida trançados com 5 mm de diâmetro, contendo flutuadores distanciados entre si a 1,3 metros;
-
Tralha de chumbada: cabos de poliamida trançados com 5 mm de diâmetro, contendo chumbadas distanciadas entre si a 85 centímetros;
-
Garatéia: material feito de metal e concreto com aproximadamente 35 kg e possui a função de facilitar a submersão e a fixação da rede;
-
Isca: cabeça de piramutaba Brachyplatystoma vaillantii (Valenciennes, 1840).
O uso da rede caçoeira é proibida em todo o território nacional através do Art. 6º da IN nº 138, de 6 de dezembro de 2006, entretanto, é o apetrecho de pesca mais utilizado nas pescarias do Norte e Nordeste do Brasil por ser mais resistente e possuir maior vida útil, além de possuir um poder de captura maior, visto que é considerado um apetrecho de pesca do tipo ativo (IVO et al., 2013; SANTOS et al., 2016).
A cangalha surgiu na década de 60, no município de Icapuí-CE e se trata de uma armadilha derivada do covo (GALDINO, 1995), por isso, é uma armadilha que possui basicamente as mesmas características deste apetrecho, porém com algumas diferenças: a cangalha apresenta duas sangas, ou seja, duas aberturas por onde a lagosta irá entrar, as armadilhas geralmente são operadas por embarcações veleiras próximas à costa e são lançadas em número reduzido, além disso, as cangalhas são despescadas diariamente, porém permanecem no mar durante toda a temporada de pesca (IVO et al., 2013)
Esse apetrecho é fabricado com armação de madeira leve (marmeleiro, peroba ou pau d’arco), que servirá de suporte para a tela de nylon de 0,60 mm, de 40 a 50 mm de malha entre nós opostos (SALLES, 2011; SILVA & FONTELES-FILHO, 2011).
Assim como a cangalha, a pesca de lagostas por meio do mergulho foi introduzida como alternativa ao uso do covo, haja vista que, como foi mencionado anteriormente, este apetrecho possui alto custo de produção, principalmente (IVO et al., 2013).
Para a realização do mergulho, os pescadores utilizam um compressor de oxigênio, haja vista que o mergulho autônomo com o auxílio de cilindros de oxigênio e torna inviável. Através do compressor, o mergulhador possui autonomia para permanecer em torno de 30 minuto no pesqueiro. Chegando lá, com o auxílio do “bicheiro” – espécie de gancho, as lagostas são fisgadas ou com a utilização do mangote (rede de arrasto operada por dois pescadores), quando a quantidade de indivíduos for muito grande, os animais são capturados (IVO et al., 2013).
Mesmo essa técnica sendo proibida pela legislação atual (BRASIL, 2006), o mergulho já foi muito praticado, principalmente no nordeste brasileiro. Estudos realizados por Oliveira et al. (2009) mostraram que em duas comunidades do litoral de João Pessoa-PB, 89% dos 37 lagosteiros entrevistados, praticavam mergulho.